Capítulo 11
Sem Vergonha
- Que flores mais lindas!
Foi como um banho de água fria. Para o alívio de Dirceu, em meio a tantos rostos surpresos e perturbados, um sorriso surgiu para salvá-lo. Respirou fundo e atreveu-se a levantar o olhar em direção a sua heroína que, aparentemente, não estava muito acostumada a receber flores.
- Quer matar a gente do coração, Dirceu? - disse Mosquinha, recuperado do susto - Agora baixa essas flores antes que pensem que você está se declarando para minha mulher.
- Não diga isso, amor. Eu adorei o presente do seu amigo. - Dirceu agora estava envergonhado com o elogio - Aí se todos os homens fossem assim... você devia aprender um pouco com ele.
- Tá vendo?! Olha a enrascada que você me colocou! - disse Mosquinha entoando uma alta gargalhada acompanhada pelos risos de todos da roda - ... não falei que ele era engraçado... Dirceu, essa é minha mulher... Suzana.
- ... Oi. - disse o tímido.
- Muito prazer. E obrigada pelo presente.
- Não foi nada...
- Puxe uma cadeira e sente com a gente. Já comeu? - perguntou Mosquinha, rasgando a conversa.
- Não! - sua barriga não era nada tímida.
- Até parece um morto de fome... afrouxe esse cinto aí e faça um prato. Essas carnes estão ótimas!
- Obrigado... alguém quer alguma coisa?
- Se eles comerem mais vão explodir! - comentou Suzana - Sirva-se e coma o quanto quiser.
Dirceu esboçou um sorriso e saiu da roda de amigos em direção a mesa com pratos e talheres de plástico, alguns refrigerantes, arroz, vinagrete, maionese, uma saladinha e alguns pães. Seus olhos brilharam. Pegou tudo que podia sem rodeios, o difícil era colocar em um prato só.
- Dirceu! Guarde espaço para a carne... é a melhor parte. - disse Mosquinha, dilacerando mais um pedaço de picanha.
O agente funerário só balançou a cabeça e começou a comer rapidamente o que tinha no prato, para abrir espaço. De boca cheia e já quase sem oxigênio, olhou por cima dos ombros e viu Mosquinha feliz, ao lado de Suzana.
Não era jovem, linda e muito menos praticante de atividades físicas. Era morena, com uns quilinhos a mais, mas tinha um dos melhores sorrisos que Dirceu já tinha visto. Tudo bem que ele também não é um grande conhecedor de sorrisos femininos, ele costuma conviver com mulheres de bocas fechadas. Mas era simples e encantador.
Levou o prato para perto da churrasqueira e viu Mosquinha enchê-lo de carne. Apesar dos olhares, quando o assunto é comida, não há cerimônia, Dirceu deixa seu estômago falar mais alto. Não teve tempo de saborear, em poucos minutos o caso foi encerrado a goles de cerveja.
- Satisfeito? - perguntou Suzana.
- Olha, dona... fazia tempo que eu não comia tão bem.
- Sabia que você ia gostar - disse Mosquinha -, pena que ninguém dos antigos companheiros vieram. Cada um rumou para um lado diferente e eu não encontrei.
- Vocês se conhecem faz tempo?
- Sim, amor. Nos conhecemos quando eu era garçom... nos divertimos um bocado naquela época...
Naturalmente as histórias vieram a tona, e as risadas apareciam como as cervejas. Dirceu se divertia entre desconhecidos, pessoas que ainda se perguntavam o motivo das roupas do mais novo membro da turma, mas ninguém se dava ao trabalho de perguntar. Para o agente, não ser o único a falar era muito bom.
- Ô pai! Cadê o sorvete? - entre as cadeiras surge um garotinho serelepe, trazendo uma nação de crianças atrás do tesouro.
- E quem disse que tem sorvete?
- Eu vi a mamãe comprando...
- Ah... quer dizer que você ficou bisbilhotando?! Seu moleque safado. - O jovem se retorcia devido as cócegas que o pai fazia, o suficiente para todas as crianças começarem a rir também. - Mamãe será que eles merecem sobremesa?
- Vocês comeram salada?
- SIM! - Um coro infantil ecoou no quintal.
- Então, quem quer sorvete?
- EUUUUU! - Até Dirceu virou criança, arrancando mais risadas dos outros adultos.
- Ah é?! Então, o jovem Dirceu vai ajudar a servir a tropa, se não... não vai ganhar. - disse Suzana, debochando da "falsa criança".
- Brincou em serviço! - Berrou Mosquinha para delírio dos ouvintes e para a vergonha de Dirceu.
Crianças... não existem pessoas mais vivas.
(Aguardem o próximo capítulo)
3 comentários:
Velho, o Dirceu é muito fofinho!
Faço das palavras do Branca as minhas.
Muito lindo ele. Adoro o Dirceu! :]
ADOREI!!! "ele costuma conviver com mulheres de bocas fechadas." hahahahah Grande Dirceu!!! lança um livro, querido!
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