segunda-feira, 22 de junho de 2009

Dirceu - O Agente Funerário

Capítulo 11
Sem Vergonha

- Que flores mais lindas!

Foi como um banho de água fria. Para o alívio de Dirceu, em meio a tantos rostos surpresos e perturbados, um sorriso surgiu para salvá-lo. Respirou fundo e atreveu-se a levantar o olhar em direção a sua heroína que, aparentemente, não estava muito acostumada a receber flores.

- Quer matar a gente do coração, Dirceu? - disse Mosquinha, recuperado do susto - Agora baixa essas flores antes que pensem que você está se declarando para minha mulher.

- Não diga isso, amor. Eu adorei o presente do seu amigo. - Dirceu agora estava envergonhado com o elogio - Aí se todos os homens fossem assim... você devia aprender um pouco com ele.

- Tá vendo?! Olha a enrascada que você me colocou! - disse Mosquinha entoando uma alta gargalhada acompanhada pelos risos de todos da roda - ... não falei que ele era engraçado... Dirceu, essa é minha mulher... Suzana.

- ... Oi. - disse o tímido.

- Muito prazer. E obrigada pelo presente.

- Não foi nada...

- Puxe uma cadeira e sente com a gente. Já comeu? - perguntou Mosquinha, rasgando a conversa.

- Não! - sua barriga não era nada tímida.

- Até parece um morto de fome... afrouxe esse cinto aí e faça um prato. Essas carnes estão ótimas!

- Obrigado... alguém quer alguma coisa?

- Se eles comerem mais vão explodir! - comentou Suzana - Sirva-se e coma o quanto quiser.

Dirceu esboçou um sorriso e saiu da roda de amigos em direção a mesa com pratos e talheres de plástico, alguns refrigerantes, arroz, vinagrete, maionese, uma saladinha e alguns pães. Seus olhos brilharam. Pegou tudo que podia sem rodeios, o difícil era colocar em um prato só.

- Dirceu! Guarde espaço para a carne... é a melhor parte. - disse Mosquinha, dilacerando mais um pedaço de picanha.

O agente funerário só balançou a cabeça e começou a comer rapidamente o que tinha no prato, para abrir espaço. De boca cheia e já quase sem oxigênio, olhou por cima dos ombros e viu Mosquinha feliz, ao lado de Suzana.

Não era jovem, linda e muito menos praticante de atividades físicas. Era morena, com uns quilinhos a mais, mas tinha um dos melhores sorrisos que Dirceu já tinha visto. Tudo bem que ele também não é um grande conhecedor de sorrisos femininos, ele costuma conviver com mulheres de bocas fechadas. Mas era simples e encantador.

Levou o prato para perto da churrasqueira e viu Mosquinha enchê-lo de carne. Apesar dos olhares, quando o assunto é comida, não há cerimônia, Dirceu deixa seu estômago falar mais alto. Não teve tempo de saborear, em poucos minutos o caso foi encerrado a goles de cerveja.

- Satisfeito? - perguntou Suzana.

- Olha, dona... fazia tempo que eu não comia tão bem.

- Sabia que você ia gostar - disse Mosquinha -, pena que ninguém dos antigos companheiros vieram. Cada um rumou para um lado diferente e eu não encontrei.

- Vocês se conhecem faz tempo?

- Sim, amor. Nos conhecemos quando eu era garçom... nos divertimos um bocado naquela época...

Naturalmente as histórias vieram a tona, e as risadas apareciam como as cervejas. Dirceu se divertia entre desconhecidos, pessoas que ainda se perguntavam o motivo das roupas do mais novo membro da turma, mas ninguém se dava ao trabalho de perguntar. Para o agente, não ser o único a falar era muito bom.

- Ô pai! Cadê o sorvete? - entre as cadeiras surge um garotinho serelepe, trazendo uma nação de crianças atrás do tesouro.

- E quem disse que tem sorvete?

- Eu vi a mamãe comprando...

- Ah... quer dizer que você ficou bisbilhotando?! Seu moleque safado. - O jovem se retorcia devido as cócegas que o pai fazia, o suficiente para todas as crianças começarem a rir também. - Mamãe será que eles merecem sobremesa?

- Vocês comeram salada?

- SIM! - Um coro infantil ecoou no quintal.

- Então, quem quer sorvete?

- EUUUUU! - Até Dirceu virou criança, arrancando mais risadas dos outros adultos.

- Ah é?! Então, o jovem Dirceu vai ajudar a servir a tropa, se não... não vai ganhar. - disse Suzana, debochando da "falsa criança".

- Brincou em serviço! - Berrou Mosquinha para delírio dos ouvintes e para a vergonha de Dirceu.

Crianças... não existem pessoas mais vivas.


(Aguardem o próximo capítulo)

3 comentários:

Brancatelli disse...

Velho, o Dirceu é muito fofinho!

Cá Ciarallo disse...

Faço das palavras do Branca as minhas.
Muito lindo ele. Adoro o Dirceu! :]

Andreia Tiemi disse...

ADOREI!!! "ele costuma conviver com mulheres de bocas fechadas." hahahahah Grande Dirceu!!! lança um livro, querido!