Campeãs

Eu acreditava que desfiles de carnaval, como os do Rio de Janeiro e os de São Paulo, eram perda de tempo e dinheiro. Nessa época eu não entendia nada sobre o assunto, era apenas um momento de festa. Cada escola tinha um tempo determinado para apresentar um tema específico dentro de toda uma arte "sambística".

Gostava dos desfiles, apesar de não aguentar vê-los durante toda a madrugada em uma caixa luminosa, chamada tv. Sortudas as escoals que desfilavam logo no começo, pois ganhariam mais um telespectador.

Os tempos mudaram, não só acredito entender um pouco mais da coisa. Primeiro comecei a tocar e fazer parte de uma família chamada, vulgarmente, de Bateria da Cásper. Depois conheci vários queridos fãs do bom e velho samba, que me ensinaram tudo que eu sei hoje. Os mesmos que me levaram a conhecer a quadra da escola de samba Mocidade Alegre, a qual faz o coração bater mais forte. E por fim, mas não menos importante, fui ver um desfile de carnaval com esses óculos que o ferro velho á de comer.

Pude averiguar de perto o que essa paixão faz com um grupo de pessoas. Essas festas são regadas de muitos sorrisos, porém são construídas com muito suor e concretizadas com lágrimas. Choro que representa a felicidade de estar lá, com todos os outros, fazendo parte daqueles poucos minutos que significam muito. E, as vezes, esse choro pode representar tristeza de presenciar um problema no carro, um erro no desfile ou a queda da sua escola para o Grupo de Acesso.

Esse mundo não é perfeito, mas é movido pelos mais sinceros sentimentos de um povo. Uma comunidade que se move por um bem maior. Para tanto, não existe melhor companhia do que o samba.

Bem, agora vamos parar com essas palavras comoventes e partir para a avenida.

Como já disse no post anterior, a grande campeã Vai-Vai é escola de samba mais tradicional de São Paulo e a mais vitoriosa também. Ela trouxe para o Anhembi o enredo que fala sobre a educação, chamando a atenção para a sua importancia e que, sem ela, o país não vai para frente.

Comissão de Frente da Vai-Vai

Carro Alegórico da Vai-Vai
(um dos mais quentes que eu vi no sambódromo)

Fora a comissão de frente, alguns carros e o samba enredo, o que mais gostei foi a torcida. Após ver o peso de torcidas como Gaviões da Fiel e Mancha Verde, que levam o calor dos estádios em um domingo de futebol para aquelas arquibancadas da avenida, não esperava maior demonstração de fanatismo.

Quando a Vai-Vai foi anunciada, e começou seu desfile, aquelas pessoas, simples espectadoras, tornaram-se parte do espetáculo. Com uma organização tremenda, que me fez lembrar das torcidas inglesas, bandeirinhas da escola foram agitadas sincronicamente nas arquibancadas por toda a avenida. Em outras palavras, aquilo foi foda.

A Mocidade Alegre desfilou logo em seguida. Eu estava na expectativa, porque, além de ser tudo o que já descrevi acima, muitos queridos estavam desfilando naquela bateria. Infelizmente eu não consegui frequentar os ensaios para ter essa oportunidade, mas sempre estive ali perto para ouvir.

Carro Abre Alas da Mocidade Alegre

A Mocidade fez um desfile impecável, mesmo depois de toda a festa que a Vai-Vai proporcionou. E os carros até me surpreenderam principalmente este abaixo. Reparem no churrasquinho de gato e no cachorro olhando os franguinhos.

Todavia, não foram os carros que mais me chamaram a atenção, apesar da criatividade. Com certeza, quando se fala em Mocidade Alegre, temos que nos render a Bateria Ritmo Puro do Mestre Sombra e de tantos queridos que estão lá. Então eu fiz mais do que tirar fotos.

Não reparem no meu amadorismo para filmar.

A Vai-Vai mereceu vencer, por tudo que fez na avenida. Porém, caso o título ficasse com a Morada do Samba, acredito que estaria em boas mãos.

Inté Carnavalesco.