- Fala mãe. - meus olhos não desgrudaram da Tv.
- Tá prestando atenção? - tentou novamente.
- Hum... - nem desviei o olhar.
- Então olha pra mim! - persistiu.
- O que foi mãe? - agora olhava para ela, mas isso não quer dizer que a escutava.
- Eu vou sair rapidinho, vou comprar umas lembrancinhas no centro. - isso significa "vou gastar com roupa no shopping" - Fica de olho no forno, porque deixei uma carne assando lá.
- Desligo quando? - gosto de objetividade.
- Daqui a meia hora, não vai esquecer?
- Não pode ir. - tenho minhas dúvidas.
- Está bem, volto logo. - assim como eu vou lembrar daquela panela... ou era o forno? - Você vai lembrar?
- Hum? - o brilho da caixa me hipnotizava, era mais poderosa que eu.
- Você ouviu o que eu disse?! - realmente havia um ponto de exclamação em sua fala.
- Claro que sim mãe, pode ir tranqüila. - "claro que não mãe, não espere comer em casa hoje".
- Tudo bem, confio em você. Não se esqueça, tá? - apenas balancei a cabeça positivamente.
Essa foi à última fala antes de sair. A preocupação da minha mãe era compreensível, além de ter uma memória horrível eu estava assistindo , interrupto, a um filme. Ela fica pior quando assiste novela.
Comercial. Hora dos reclames. Momento de recapitular os fatos: desligar, forno, meia hora, eu. Querendo ou não, trata-se da alimentação de uma família, minha responsabildiade. "pelo futuro da minha família, não esquecerei" pensei em voz alta.
Meu objetivo de vida durou até o fim das propagandas e a continuação do filme. Perdi-me dos fatos reais. Apenas as emoções eram acionadas. Eu estava lá, cara a cara com o vilão, e não sentado no sofá da sala.
Ação. Tiros, perseguições, textos fortes, legendas mal feitas, explosões, suspense, beijos, fogo, carros, atriz linda, forno, carne,... para ser magra assim ela nem come. Desligar. Meia hora. Fodeu.
Incorporei o desespero do protagonista, ambos em busca da verdade. Ele precisava de um mapa e eu de um relógio. O mocinho queria salvar o mundo, eu queria salvar um pernil ou alguma coisa parecida. Caso o final seja trágico, minhas conseqüências seriam piores.
13:55h. Uma balde de água fria caiu sobre meu corpo. Que alívio. Lembro de ter visto a hora antes de minha mãe sair, às 13:30h. Ainda me restavam cinco minutos, melhor esperar até o momento exato.
Levantei-me. Fui ao banheiro. Fiz o que tinha que fazer. Olhei-me no espelho e apreciei meu olhar destemido. Poderia, facilmente, ser um herói de filme.
Regressei a sala. Assisti ao filme por alguns minutos, até um final cretino (acho que me iludo com os efeitos especiais do cinema atual). Subi as escadas e passei no meu quarto. Encontrei meu irmão no computador e perguntei se eu não poderia usar um pouco. Ele pediu mais alguns minutos.
Enquanto isso, fui ao quarto dos meus pais. Peguei o violão, sentei na cama e comecei a dedilhar algumas músicas. Nada demais, apenas para manter o hábito.
Ouvi os passos no corredor, revelando a aproximação de um ser. Era o meu irmão avisando que a máquina estava liberada. Deitei o instrumento sobre a cama e me encaminhei até o outro quarto.
Ao puxar a cadeira e sentar, ouço um grito vindo da sala:
- Mano! Tá cheio de moscas aqui!
- Moscas?
- É! Têm muitas. Até parece um filme de terror.
Um franzir de sobrancelhas revelava meu desentendimento. Fiquei ainda mais intrigado com o cheiro forte ao me aproximar das escadas.
- Que cheiro é esse? - antes da resposta sempre vem a dúvida.
- Não sei. Deve ser o motivo de tanta mosca. - disse meu irmão.
- ... fodeu! - pronto, nesse momento obtive a resposta. - Queimei a carne!
Não desci as escadas, saltei os degraus. Corri em direção a cozinha. Como um carro em alta velocidade as moscas se chocavam contra mim, mais um pouco elas morreriam nas lentes dos meus óculos.
Desliguei rapidamente o forno. Retirei a carne. Tossi com a fumaça. Tentei avaliar o estrago, mas me queimei antes. O resultado não poderia ser outro. Perda total. Havia acabado com o futuro da minha família.
Lamentava a falta de atenção, de memória e de responsabilidade. Reclamava em alto e bom som, um nível a ponto de o meu irmão solicitar, delicadamente, que fechasse a minha boca. Eu merecia.
Dei-me conta que não adiantava chorar o leite derramado. Muito menos a carne queimada. Então fui à padaria comprar uma carne assada, que minha mãe reconheceu não ser a mesma que ela preparou, apesar do meu esforço. Já o meu irmão solucionou o problema das moscas com o melhor caçador, o nosso gato.
Fim.
6 comentários:
Q desastre!
Mas não adianta, contra isso, precisa-se de despertadores, lembretes, papéis colados em todas as paredes =p
E carne no microondas é uma droga :S
:*
e n ficou tão detalhada... contei uma ou outra coisica da história, tá? ¬¬
hahahah
Se lembre de que qndo.. ham.. se um dia a gente for viajar, lembre-se de nao ser o responsavel pelo fogao, ok? Deixe com algum amigo japones!
haha
Abraços!
e quando vc vir que vai dar merda você, de sopetão, grita bem alto:
FODEOOooOOoooOOooOOooOO!!!!!!!!!!!
Nossa... eu acho que já fiz isso umas 5.388 vezes!
hahahahaha!
Minha mãe diz que sou a rainha da comida queimada!
Hahahahaahaha!! Tadinho!!
/me Abraça
Mas tudo bem, o final foi mais ou menos feliz naum foi? E meudeos q filme era esse???
Hiláaaario! nao sei se isso t consola... mas um caso assim ja aconteceu comigo... varias vezes! rsrsrs
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