Busão - A Saga (Capítulo 1)

Nada como voltar para casa utilizando o bom e velho transporte público, um belo passeio no meu querido ônibus municipal. Não é apenas um pequeno trajeto, mas sim uma verdadeira viagem, pois sou levado do ponto inicial até próximo do ponto final.

Aqui estou eu na fila para entrar no veículo, a procura de um pequeno espaço na sombra da árvore, disputado pelas velhinhas mais agressivas, e a espera de uma mísera brisa que permitam um momento de “comercial de pasta de dente”. Refrescante.

Enfim, o cobrador saiu do banheiro e adentrou ao seu ambiente de trabalho, o que fez a fila se mover alguns centímetros até parar novamente, porque a o cobrador teve a brilhante idéia de comentar o jogo da seleção ontem com o vendedor de sorvetes (faça-me o favor, era um amistoso contra algum time do Oriente Médio, vai comentar o quê?). Ainda bem que ele viu o jogo e não a novela, caso contrário as minhas amigas idosas, com toda a certeza, gostariam de opinar.

Grandes eventos esportivos a parte, a fila voltou a andar. Desloquei-me até a catraca, peguei o meu bilhete único e passei naquele visor, porém, para a minha preocupação, o cartão não foi identificado. Pela quarta vez, já perdendo a paciência, quase a ponto de arremessar minha mala no vendedor de sorvetes que insistia em conversar com o cobrador sobre o jogo, descubro que aquele não era o bilhete único, mas sim meu cartão da faculdade. Peguei o cartão certo e passei rapidamente pela catraca, na tentativa de demonstrar minha lucidez, o que foi em vão quando ouvi os comentários risonhos do cobrador e de uma velhinha que deve ter pensando em voz alta: “juventude babaca”.

Acomodei-me ao lado da janela, coloquei minha mala no chão, preparei meu mp3 e esbocei aquele meu sorriso sedutor, que atrairia uma moça bonita para o lugar vago ao meu lado. Para a minha surpresa haviam mulheres bonitas, mais do que o normal. Para o meu conformismo nenhuma delas sentou ao meu lado. Acho que o banco não era muito confortável, só pode ser isso.

Decepcionado comecei a ouvir minhas músicas e a entrar no mundo paralelo, outra dimensão (“autista”? Nem um pouco). De repente esse meu mundo foi invadido por um perfume estranho, como se esse meu mundo fosse um vestiário lotado após um jogo, com prorrogação. Esse odor logo foi identificada quando percebi que, ao meu lado, sentou-se um cidadão barbudo, de bermuda, camisa listrada aberta, e um boné de algum sindicato ou partido político, que eu não me dei ao trabalho de procurar saber qual era exatamente.

Trata-se de algo inevitável. O senhor tinha acabado de sair do trabalho e, esgotado, precisava chegar a sua residência. Provavelmente dormiria umas 3 horas e acordaria para voltar a trabalhar em um segundo emprego. Uma luta que muitas pessoas travam todos os dias e que merecem todos os aplausos possíveis, pois não é nada fácil.

Entretanto, o que me incomodava não era a pessoa. Aquela fragrância Pós-Obra n° 5 afetaria a respiração de qualquer um. Sentir o vento no meu rosto, quando o ônibus começou a andar, foi um sopro dos deuses. Essa viagem seria longa...

Continua no próximo Post... ou não.

Observação: Então meus queridos, hoje não haverá poesia. Estou pensando seriamente em criar outro blog só para as poesias. Muitas vezes eu escrevo um texto que não combina com a poesia, isso pode ser prejudicial para o blog e para a sua leitura. Aí ficaria um blog só com poesias e esse apenas com textos. O que vocês acham? Opinem, por favor.

Obrigado.