Milagre. Vou de carro para casa.
Nada de ônibus, nada de metrô. Não vou recusar uma carona tão amável do meu pai. Ele deve estar achando que voltarei dirigindo, mas a grande verdade é que vou puxar aquela pestana no banco do passageiro. Ah... merecida soneca. Estou acabado. Lá vem ele:
- Entra aí filho – meu pai ouvindo Tupi ou qualquer rádio do gênero, só sertanejo, ou seja, “perdi você”, “uma cerveja”, “boi e rodeio”, “você com outro e eu sozinho”, “a vida continua”, etc.
- E aí coroa – apelido carinhoso para o velho.
- Coroa é seu passado! – ele não gosta.
- To brincando pai. Muito trânsito pra chegar?
- Não. Foi rápido pela estrada. O problema é esse calor – e realmente que sauna se encontrava aquele carro, me senti um frango em forno de padaria. Nem com o ar condicionado, abrindo a janela, deu resultado.
A conversa não foi muita extensa, pois simplesmente adormeci. O refrão “tentei te esquecer, não deu” se tornou música de ninar e o movimento do carro era o balançar de um berço. Cada parte do meu corpo agradecia pelo descanso, acho que o meu tornozelo chorou nessa hora. Um conforto inenarrável me guiava até a nuvem 28, tão sublime. Sentia-me no céu... ploft... voando até o infinito... ploft... como uma folha... ploft... carregada pela brisa... ploft... de outono... ploft... mas que... ploft... é... ploft... essa?!
Acordei daquele transe e reparei que o carro ficou lento, cada vez mais devagar, até que parou. Meu pai olhou para mim e disse as piores palavras num sábado à tarde, sonolento e quente, como aquele:
- Pega o step.
Nada de ônibus, nada de metrô. Apenas pneu furado, macaco, chave, parafusos, sol escaldante, uma estrada. O melhor programa pai e filho desse mundo. Eu só torcia para não cambalear até o meio daquela travessia de carros em alta velocidade, no meu estado eu não duvidaria.
Aí. Tá quente. Maldito pneu furado. Mas quem foi o cretino que resolveu jogar pedras pontiagudas no asfalto? Se fosse um pedregulho meu pai teria desviado, mas não! Tinham que ser pequenas.
- Merda!
- Merda não. Macaco.
- Toma – disse eu depois de abaixar o carro.
Depois de guardar tudo, a minha camiseta suada afetou profundamente meu conforto naquele banco. Minha cara não era de muitos amigos. Agora meu tornozelo não parava de me xingar e o restante das partes pedia um banho. Principalmente a minha garganta, só que sem sabão, por favor, apenas água.
Meu pai deu uma respirada profunda quando sentou ao meu lado. Olhou para mim e exibindo um sorriso de trabalho cumprido. Não sei ao certo se foi o sorriso, a companhia do meu pai ou algum efeito desconhecido da minha garganta seca, mas eu também sorri. Não apenas sorri, eu ri. Quase gargalhei com meu pai que me acompanhou naquela breve felicidade. Com batidinhas nas costas, o carro se dirigiu ao seu destino.
Qual a moral da história?... Moral?... Isso é para aqueles que esperam tudo da vida. Que precisam de espetáculos para a alegria e que se entristecem com o pouco.
Sonhador sim. Dramático... provavelmente. Fazer mágica com a simplicidade é a diversão do real. Só complica a vida quem quer.
Boa noite meus queridos.Poesia de Hoje:
Sinta
A vida se abre
Em fortes cores
Largos sorrisos
Alegria celeste
Sonhos que toco com as mãos
Não dormem no travesseiro
Não fogem de mim.
Fica e brilha
No meu olhar
De criança, de adulto
Coração, razão
Sentimento, mente
Que se perde, divaga.
Pisa no chão
Apega-se ao concreto
Faça, não pense
Diga, não guarde
Escreva. Liberdade
Que as lagrimas lavem a alma
E molhem o papel
Que os risos abracem seu corpo
E movam a caneta
Eleve o espírito
Deixe-se levar autor.
7 comentários:
êeee programão hem?
impressionante a capacidade que certas companhias têm de deixar valer a pena qualquer momento... por mais que o mundo conspire contra, é tao bom ter esses momentos ne?
igual quando eu e a mae ficamos cantando dentro do carro no meio do transito e do calor infernal q costuma fazer por aki... hehe
:**
Hááá q texto da hora..
melhor narração daquela tarde quente não poderia haver...
muito bom, querido, mto bom...
Abraços
Huahahahahaha...
Adorei!!!
E realmente... quem precisa de "moral da história", hein???
o/
Ainda bem q a gente pode escolher ne? :]
tbm acho isso bom
:***
Esses pequenos momentos que fazem nosso dia diferente.
Essa é a graça da vida.
referências do que?
num tindi Oo
:*
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