Capítulo 14
Culpa da cerveja
Tudo por culpa de uma cerveja. Isso já causou problemas para Dirceu, mas há muito tempo o álcool não vinha prejudicá-lo. Prestes a deixar a casa de Mosquinha, para esconder tamanha vergonha, eis que uma latinha surge e atrapalha todos os planos de fuga. Mas era só questão de tempo, era só pegar uma gelada na mesa, entregar para a moça desconhecida, pedir mais algumas desculpas e correr, correr muito.
Como um verdadeiro agente secreto, Dirceu enfrentou novamente os obstáculos humanos até a mesa. Aparentemente, sem ser notado por ninguém. Pegou uma lata de cerveja e guardou com as duas mãos, como se fosse o bem mais precioso. Baixou a cabeça, mas manteve uma visão mínima do seu horizonte. Não queria ter que voltar para aquela mesa de novo.
Parecia uma das crianças correndo entre as pernas dos adultos. Com o cair da noite, suas roupas não chamavam mais tanta atenção e as pessoas já estavam levemente envolvidas pelo álcool, como toda festa. Cada vez mais perto do objetivo.
- Aqui está.
- Obrigada... não precisava. - disse a moça pegando a lata e ainda tentando secar o vestido com guardanapos.
- Não é melhor você tentar lavar um pouquinho? Vá ao banheiro e jogue uma água. - Estranhamente, ele conversou sem rodeios. Estava mesmo disposto a fazer de tudo para ir embora, porém, não queria sair e deixá-la com problemas que ele causou.
- Mas... eu não sei onde é o banheiro...
A humildade pode jogar a seu favor ou contra. Qualquer um poderia dizer que não sabia, dizer para perguntar ao dono da casa, apenas apontar uma direção qualquer, mas não o prestativo Dirceu.
- Venha... eu mostro.
Ele foi na frente e ela logo atrás, ambos de cabeça baixa e evitando esbarrar em outra pessoa. Agora, era o agente guiando a mocinha para a salvação, um filme de atores tímidos.
Poucos segundos antes de entrarem despercebidamente na casa, Dirceu se sentiu vigiado. Olhou para os lados, a procura de uma observação, mas não encontrou nenhum olhar em sua direção.
Entraram e viram duas meninas vidradas na novela na Tv e três garotinhos embalarem seus melhores sonhos no sofá da sala. Por ter feito outro caminho, Dirceu demorou a se situar e entender como os poucos cômodos se interligavam. Só lembrava que o banheiro era perto da cozinha, pensou em se esconder lá quando conversava com Suzana. caso algo desse errado.
Quando avistou uma porta entreaberta e uma pia posicionada logo atrás, o agente parou. A moça que vinha logo atrás, não viu, e bateu a testa nas costas do herói. Realmente, andar de cabeça baixa é muito perigoso.
- Desculpa...
- Não foi nada... bem, aqui é o banheiro. Acho que não tem ninguém.
- Ah... bom... vou usá-lo. - Antes de entrar, a moça olhou para a lata e parecia confusa. Não sabia se entrava com ela ou se pedia para o guia segurar. Queria pedir, mas não tinha coragem. Até que Dirceu percebeu.
- Quer que eu segure... - estendendo a mão para pegar.
-... obrigada.
E a porta se fechou. Dirceu ficou ali, estagnado, trocando olhares com a porta e a lata nas mãos. Pensava no quanto era difícil sair daquela casa e nos problemas que uma cerveja pode causar. Contudo, não foi apenas isso que passou pela sua cabeça. Por um breve momento, perguntou-se quem era aquela moça. Não a viu com ninguém e parecia tão perdida quanto ele. Não sabia nem o seu nome.
O vestido que ela trajava parecia ser tão desconfortável e inapropriado quanto as suas vestimentas. Usar preto em um dia ensolarado não era uma escolha muito inteligente, mas, de repente, ela só chegou agora à festa. De repente, o namorado está a sua procura. De repente, uma dessas crianças é o seu filho. De repente, o seu marido está a procura do idiota que "raptou" sua esposa. De repente, isso tudo era coisa da cabeça de Dirceu.
- Aí está você, fujão! - ah, claro. Tudo que precisava agora era o Mosquinha aparecer - O que está fazendo aí?
- Quem? Eu?!... estou na fila do banheiro.
- Ah... vi você entrar sozinho... - já estava tão bêbado quem não notou que havia mais uma pessoa - e as mulheres?! Falei que era um monte delas!
- É... muitas.
- Vai lá! Escolha a mais bonita e mostre seu charme... HAHAHAHAHA - era uma risada tão alta, que fez o agente sentir dor no ouvido.
- Sim... logo... preciso ir ao banheiro.
- Mas quem é que está aí demorando tanto?! Ei! Saí logo... meu amigo quer fazer o n° 1.
Mosquinha não sabia se comportar muito bem, ainda mais bêbado, e também não sabia o mal que estava fazendo a Dirceu. Agora, queria incomodar alguém que nem sabia quem era, quanto a isso o agente ficou preocupado. Com certeza, era só a moça sair do banheiro para o Mosquinha empurrá-la para o Dirceu, duas pessoas muito sociáveis. O melhor era tirar o anfitrião dali.
(Aguardem o próximo capítulo)
Um comentário:
Que tirar o anfitrião, o que! Ele gostou da mocinha!
E puxa, o Dirceu é tão fofo.
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