Dirceu - O Agente Funerário

Capítulo 12

Bem vivinhos

Suzana foi na frente para mostrar o caminho, mas não era um grande desafio achar a cozinha naquela casa, o difícil era conter a euforia das crianças que seguiam e rodeavam Dirceu. Saltitantes e endiabradas, faziam de tudo para chamar a atenção, principalmente de um elemento engraçado como o agente.

– Por que você está vestido assim? – perguntou sem rodeios o filho de Mosquinha.

– Assim como?! – devolveu Dirceu.

– Assim... como um agente secreto.

– Um agente secreto?!

– É! Como os filmes do 007, que ele mata um monte de gente e salva o mundo!

– Bom... eu sou um tipo de agente...

– É mesmo?! E você mata todo mundo?!

– ...não exatamente.

– Cadê sua arma?! – perguntou o garoto levantando a lateral do palito...

– Felipe! Deixe o nosso convidado em paz... – brigou Suzana que, logo em sequência, parou diante da entrada da cozinha e virou-se para Dirceu, parando a tropa – Não deixe que eles façam tudo que querem, se não eles acabam com sua vida.

– Pode deixar senhora. – afirmou Dirceu, escutando as crianças dando risadas por de trás das mãos que tapavam suas bocas.

– Então, crianças, façam fila aqui... não vale furar a fila en! Se não, não ganha... eu e o Dirceu vamos dar o sorvete...

As crianças se agitaram para formar uma fila, logo Dirceu que estava no meio da molecada foi praticamente arremessado para dentro da cozinha. Ele olhou para traz para ver a organização de quem só sabe desorganizar e riu de toda aquela bagunça.

– Tá bom, seus pestinhas... vocês querem ganhar sorvete, certo?

– SIIIIIIIIMMMM!!!!

- Então, quem é o mais novo de vocês?

– ... o Gui. – Disse uma menininha serelepe da frente.

– E onde está o Gui? – do meio dos mais altos surgiu um moreninho, baixinho, com um pato de pelúcia na mão, tão encantador quanto o dono.

– E... eu tenho "quato" ano... olha... – disse o Gui, tentando mostrar os seus 4 anos com ajuda dos dedos, mas só ergueu três dedos.

– Ah... então você já tá velho... até sabe contar! - disse Dirceu, com aquele tom de voz estranho, que tods fazemos quando falamos com crianças bem pequenas – Então, vamos fazer assim... o Gui é o primeiro. Atrás dele vem quem tiver 5 anos... depois vem quem tem 6... 7... 8... entenderam?

– SIIIIIIIIMMMM!!!!

Apesar da tentativa de organizar, as crianças começaram a se trombar e empurrar, aos risos e gritos. Para tudo cabe uma bagunça. E, estranhamente, Dirceu se divertia com algo que nunca pensou em vivenciar, ainda mais tão calmo.

– Você tem jeito. – disse Suzana se aproximando com vários pratinhos.

– Ah... não tenho muito costume.

- Mas fez muito bem... entregue os pratinhos e vamos alimentar essa tropa.

– Está bem... pode deixar. - Ao se virar para a fila de pestinhas, já menos agitados, reparou naqueles olhinhos que brilham por coisas tão pequenas, como uma colher de sorvete – Cada um pega um prato só, cuidado pra não quebrar... se não num vai ganhar.

As crianças, uma de cada vez, pegaram seus pratos. Logo em seguida veio as colheres. Suzana logo apareceu com um grande pote de sorvete de chocolate, que fez cada corpinho daqueles se arrepiar de ansiedade. Serviu a todos, que logo correram de volta para o quintal. Uma bagunça lambuzada de chocolate.

– Você tem filhos, Dirceu?

– Não... nem esposa eu tenho.

– Como? Um rapaz bonito como você deve ter alguma paquera... – o velho comentário "um rapaz bonito como você" que não quer dizer nada para muitos rapazes, mas para Dirceu, era o suficiente para a vergonha ser estampada em sua face.

– Que é isso, senhora... sou bonito não.

– É sim... e o que não falta são mulheres atrás do seu amor... eu achei o meu.

– O Mosquinha é um grande amigo... pena que ficamos muito tempo sem nos ver.

– Ele disse que tinha encontrado um amigo que não via faz tempo, aí vieram um monte de histórias... mas teve uma coisa que ele não soube me dizer...

- O quê?

– ...você trabalha com o quê?

Esse pessoal não vai sossegar até descobrir.

(Aguardem o próximo capítulo)