segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Justiça é o que interessa, o resto não tem pressa - 2

Um mês correu desde que havia sido intimado a depor, mas só fui me dar conta uma semana antes. E como não tinha passado por nada parecido, minha imaginação entrou em ação.

Apostava naquele tribunal hollywoodiano, com algumas pessoas, um júri, advogados prontos para cumprir o seu papel, um juiz com cabeleira branca, policiais, o juramento com a mão sobre a bíblia e várias mudanças de ângulos das câmeras (me empolgo facilmente, fato).

No mesmo momento veio a pressão e o medo. Várias dúvidas pintaram na minha cabeça. Será que vou me lembrar de tudo? Vou me lembrar do rosto do safado? E se eu errar no depoimento? O advogado do acusado me deixará confuso? Eu preciso de um advogado? Quê roupa eu preciso usar? Vai demorar muito? Serei alvo de alguma quadrilha que quer evitar o meu depoimento? Oh, e agora, quem poderá me defender?

Mesmo com a mente transtornada, fui. Pedi licença no trabalho, almocei e me dirige ao para o Fórum. Anunciei minha chegada e todos me olharam com ar de admiração. Mentira. Solicitei auxílio a um funcionário que me guiou até o 2° andar do prédio. Sentei em um banco e aguardei a minha vez. Sim, como uma linha de produção, fiquei esperando para ser ouvido.

Logo chegou a outra testemunha, o frentista do posto. Foi uma situação engraçada, pois nunca nos falamos e ele até tinha sido questionado se estava envolvido no assalto, então esperava uma um ambiente hostil. Porém, ele me cumprimentou e conversamos sobre toda aquela situação, extraindo boas risadas.

A porta de uma sala, das milhares que haviam ali, se abriu e nos chamaram. Não era a sala do depoimento, era o recinto por trás dos panos que eu não fazia idéia que existia. Haviam computadores trabalhando, nos quais os vídeos do "tribunal" eram editados. Porém, também tinha uma passagem secreta, uma porta que dava para a sala ao lado, na qual eu iria depor.

A passagem secreta se abriu, passaram dois elementos que me deram um "bom dia" frio, um baixinho japonês de terno e gravata e uma pessoa X. Essa pessoa X veio ao meu encontro e perguntou se eu queria depor na mesma sala com o acusado. Esperando uma possível ação da quadrilha, eu disse "não". Então fiquei de frente para a porta da passagem secreta, que estava fechada (graças a Deus) e olhei por pequenas frestas onde vi uma pessoa algemada, vestida de laranja e vários policiais.

Demorei um tempinho para analisar a sala inteira e averiguar se não tinha alguma pessoa escondida, pois, de repente, colocaram outra pessoa para fingir que era o acusado, para me confundirem e contrariar o meu depoimento. Então me perguntaram: "Esse foi quem te roubou?" e eu respondi rapidamente "sim", antes que meu silêncio demonstrasse qualquer dúvida. Mas era ele mesmo. Fizeram o mesmo com o frentista que também respondeu positivamente.

Retiraram o acusado da sala e fui transferido para a sala de depoimento. Um ambiente pequeno, cheio de mesas, microfones e câmeras. Contudo, sem platéia, júri, bíblia ou qualquer figura forte dos meus delírios. Agora vamos as categorizações: o japonês de terno e gravata era o juiz; aqueles dois elementos eram os advogados; e a pessoa X era uma pessoa X. Havia também um escrivão e outros figurantes.

Contei minha história, surgindo algumas perguntas que respondi prontamente com clareza, outras que só respondi, mas nada ficou em aberto. Destaco a atuação dos advogados, de acusação e de defesa, que me perguntaram uma vez cada um. O de Acusação, meu camarada, perguntou-me quando eu havia comprado o celular, sendo que eu não havia contratado ninguém, enquanto o de Defesa, o goleiro inimigo, perguntou-me quanto eu havia pagado no celular.

Não entendo nada de Direito, mas fiquei horas em casa pensando em que planos e estratégias mirabolantes aqueles advogados iriam traçar com apenas esses questionamentos. Pelos filmes que assisti, era melhor não duvidar de nada, pois nessas novelas sempre ocorrem reviravoltas extraordinárias na hora do climax.

Voltando ao depoimento, não por muito tempo, o juiz falou algumas coisas e eu outras. Então, acabou. Muito mais rápido do que eu esperava. Logo fui retirado da sala para que o frentista iniciasse o seu depoimento, mas não fiquei para saber qual seria o veredicto. Parecia tudo definido para mim.

Caminhando em direção as escadas da vara criminal, passei por uma sala, com grandes portas abertas. Havia uma platéia pequena, um júri, um juiz de peruca e roupa preta, policiais, pessoas algemadas e advogados performáticos, que mudavam a entonação da voz enquanto falavam, verdadeiros atores dos próprios roteiros. Não demorei a concluir que ali estava ocorrendo a gravação do filme, quem sabe o que eu havia passado era apenas uma seleção de personagens.

Brincadeiras a parte, enalteço o trabalho dos juízes e do júri, que devem julgar tudo aquilo e tomar decisões, muitas vezes difíceis, e também lembrar do trabalho dos policiais, escrivões e outros funcionários envolvidos com a justiça. Não sei bem o que falar aos advogados, peço perdão se acabar ofendendo alguém, mas fica difícil para eu não acreditar que muitas mentiras não são criadas para defender causas criminosas, pessoas de má índole, em troca de dinheiro.

Não vamos falar de corrupção ou qualquer assunto polêmico agora. A melhor coisa foi sair daquele lugar e deixar de pensar em tudo aquilo que me fez ir até lá. Que a justiça seja feita, porque eu já fiz a minha parte.

7 comentários:

João Bertonie disse...

Hááá!!!
Quando eu fui num tribunal foi assim tbm. Eu achei que tinha 32 júris sérios e calados, um juiz de peruca branca, um advogado de acusação e um promotor que gritavam e um advogado de defesa. Mas na verdade só teve um juiz e dois policiais. rsrsrsrs
Adorei o post. Que bom que tudo acabou bem, né?
xD
abraços

Vitor disse...

aaaaaagora sim!

eu já estava ancioso para saber qual teria sido o desfecho daquele dia malígno que impossibilitou algum rolê que nós estávamos combinando...

Mar e Ana disse...

hueheuhe q legal seu jeito de contar!
E num é por nada não... mas ce viajou na maioneze neh?

E ah, a minha irmã faz Direito Oo
Ela é louca, se pa...


Q bom que tudo acabou bem, no fim das contas!
:***

Renatinha disse...

Devo dizer que essa história tem bem mais charme quando contada ao vivo! ;)

Alessandra Castro disse...

Uau que emocionante. Nunca fui ao tribunal, nem para o bem ou para o mal, mas deve ser realmente um espaço repressor.

João Bertonie disse...

Mas uma vez, que bom que tudo acabou beim né? Brasil é fogo mesmo. Tem mais jeito não!
xD
adorei o post
xD
abraços

Post novom hein?

Basílio Sgaratti disse...

Caro Colega,

Amarguei no dia de ontem sentimento semelhante ao teu, quando meu telefone móvel me foi subtraído em plena luz do dia.

Entretanto, o elemento coercitivo que levou-me o aparelho ainda não foi capturado, e portanto, não tive ainda a oportunidade de visitar o nobre tribunal de justiça, e mais importante, reconhecer o indivíduo.

Mesmo assim, compartilho o sentimento de incomunicabilidade com você, caro colega.

Abraços Fraternos, e boa sorte!