sábado, 5 de abril de 2008

Dirceu - O Agente Funerário

Capítulo 4
Morte seguida de roubo

Às 20h em ponto, Dirceu pegou um prato fundo. Encheu de arroz, feijão e alguns pedaços de carne que sobraram do almoço. Sentou-se na frente da Tv e fez o que muitos brasileiros repetem dia após dia: deu boa noite ao âncora do telejornal e começou a assistir as notícias, enquanto dava garfadas no seu rango.


Como todo bom cidadão, Dirceu ficou abismado com tamanha demonstração criminal no país, regada de mortes. Sempre passa por sua cabeça o que seria da sua vida se aquele fosse o único cemitério do Brasil. Já cansou de ouvir por aí que as pessoas boas vão para o céu. Se, por acaso, o "CEU" fosse realmente o céu de que todos falam, pelo espaço que sobra naquele pedaço de terra, concluria-se que o mau reina entre o verde amarelo.

O agente funerário dava graças não só pela comida no prato, mas também por morar em um lugar que não tinha o que roubar ou muitas pessoas para serem mortas, exceto ele próprio.

Algum tempo depois o sono bateu e, nacauteado, Dirceu se entregou aos seus sonhos, após desligar as luzes e a Tv. Apesar de dormir bem nos últimos dias, a insônia tinha seus efeitos colaterias, então não havia sono profundo para ele. Foi dessa leveza que o alarme disparou.

Dirceu abriu os olhos devido um pequeno barulho que ouviu, pareciam passos. Descartou serem gatos, que corriqueiramente passeavam pelo gramado procurando abrigo, pois faltava a sutileza no caminhar e dificilmente os bixanos fazem algum ruído. Ao olhar sorrateiramente pela janela avistou dois vultos, que se movimentavam vagarosamente entre os túmulos.

"Assombração" pensou Dirceu. Os olhos se arregalaram, começou a suar frio e suas mãos, trêmulas, nunca agarraram com tanta fidelidade o terço que escondia no bolço da calça, até parecia um católico devoto. Rezou uma oração atrás da outra e jurou que nunca mais iria beber. Quando seus olhos já começavam a lacrimejar, percebeu que não havia nada de sobrenatural na história.

O medo de Dirceu deu lugar a um breve alívio. A luz da lua e dos postes da rua ajudaram a identificar aquelas sombras. Não eram felinos, tão pouco fantasmas, eram apenas dois adolescentes, perto dos seus 18 anos, andando no cemitério.

"O que esses muleques estão fazendo aqui?" se perguntou o agente. Não poderiam ter pulado o muro atrás de pipa a essa hora da noite. E, descobriu-se, que suas inteções realmente eram outras.

O olhar atento, de dentro da casa, acompanhou a ação dos garotos. Eles se aproximaram de um túmulo, um dos mais bonitos do cemitério e abriram-no, com auxílio de alguns utensílios que não foi possível para o investigador identificar, devido a escuridão, e um grande esforço de ambos. Um deles ligou uma lanterna e o outro começou a mexer no caixão. Logo Dirceu observou que eles conseguiram abrir o caixão e rapidamente o fecharam, em seguida fizeram o mesmo com o túmulo. Afastaram-se em direção a uma das paredes e, como um show de equilibristas de um circo, pularam o muro alto com auxílio de alguns buracos no concreto.

"Mas que diabos!" disse Dirceu ao se levantar de seu esconderijo. Ele não sabia o que aqueles garotos queriam ou fizeram. Pulou a janela e correu até o túmulo. Ao se aproximar lembrou que o sepulcro arrombado pertencia ao ex-prefeito da cidade. Dirceu conseguiu abrir o túmulo e o caixão, que os garotos deixaram mal fechados e se espantou.

O corpo do político estava lá, pelo menos o que sobrava dele, que fora enterrado há uma semana atrás. Porém, Dirceu não encontrou o relógio de pulso, a corrente de ouro e nem a medalha de bravura do ex-prefeito, de quando serviu o exército.

Não eram gatos, eram gatunos. Chamem a polícia e os repórteres, porque assaltaram o CEU.


(Aguarde o próximo capítulo)

6 comentários:

Mar e Ana disse...

ahuhauah
tem gente pra tudo nesse mundo né?
Assaltar cemitério, pela mor...

:*

Renatinha disse...

hahahahahaha! Adorei! Adorei!

Éééé...a coca meio que estraga o gosto do chocolate...sei como é...!

Adoro as histórias do Dirceu, sabia?

Vitor disse...

adorei o prato fundo com arroz e feijão!

a história também...mas o prato ai ai...

Alessandra Castro disse...

ai sinto q Dirceu enfrentará problemas...Pobre pobre Dirceu.

PS: Como consegue fazer isso? Ensina eu a escrever assim! =**

Alessandra Castro disse...

:)

Mar e Ana disse...

Então...

mais?