Capítulo 3
À noite que Dirceu morreu
À noite que Dirceu morreu
Dirceu não era um homem de dormir muito. As manhãs sempre aparentavam ser mais longas, pois a sua imaginação demorava a enfrentar a claridade e suas obrigações profissionais o impediam de se distrair demais. Claro que ele sempre achava um momento para os seus devaneios, enquato o sol ganhava os céus.
À noite os pensamentos iluminavam o cemitério. E por essas "viagens", sem sair do lugar, que Dirceu dormia tarde, mas o suficiente para levar a vida vagarosa, dia após dia.
Todavia, uma madrugada, indiferente para os seres comuns, foi inquietante para o único ser humano vivo naquele terreno. A cama de Dirceu quebrou. Depois de 13 anos de uso, o dono ainda ficou surpreso pela falta de qualidade daquele móvel. Sempre teve alguas dores nas costas, mas nunca reclamou para seus amigos mortos.
Tamanha era a sua raiva e indignação, a tentativa de dormir sobre o couchão surrado, colocado no outro canto do quarto, foi em vão. Ficou deitado ali por menos de 5 minutos, insuficientes para acalmá-lo, já que ficou revirando-se insistentemente.
Levantou-se e sentou se na cadeira. Momento que desistiu da luta e aceitou a insônia. Foi quando Dirceu sentiu inveja de todas as outras pessoas que se encontravam dentro daquelas quatro paredes. Afinal todas elas estavam deitadas, imóveis, em sono profundo.
Também comparou sua cama com um caixão e concluiu que o berço dos mortos, muitas vezes, era mais confortável que sua própria cama.
Após tantas reflexões, ficou intrigado pelo sono dos mortos. E de repente, devido ao nervosismo que o tomava, decidiu que, simplesmente, morreria por uma noite.
No dia seguinte, passada a noite em claro, Dirceu pôs seu plano em ação. Primeiramente escolheu um caixão em que seu corpo coubesse com folga, extremamente confortável e que não tivesse nenhum defeito, principalmente nos fechos e dobradiças, pois não queria que seu sono fosse eterno devido a erros de fabricação.
O segundo passo foi resolver onde o caixão ficaria, porque não queria apenas colocar sua nova cama no quarto. Já seria muita mordomia para aquele aspirante a defunto, que teria o maior túmulo das redondezas, sua própria casa, o que poderia acarretar no descontentamento dos outros inquilinos.
Desistiu, horas depois, de se "auto-enterrar", o que seria humanamente impossível. Então, achou melhor apenas colocar o caixão sobre um túmulo, um retângulo 3D forrado de azulejos acinzentados. Pertencia a uma senhora que faleceu há muitos anos atrás, vítima da pneumonia. Já que iria dormir em uma espécie de "beliche macabra", Dirceu achou melhor dormir com uma mulher.
Com todo o planejamento concluído, chegou a hora da verdade. Precisamente às 23:48h, Dirceu subiu sobre o túmulo, abriu o caixão e deitou-se delicadamente. Antes de fechar a tampa do caixão, que não ficaria presa em hipótese nenhuma, ele ainda arrumou o travesseiro e o cobertor velho. Ainda houve a pausa para a oração, não queria ser alvo de nenhuma assombração no seu novo habitat.
Cuidadosamente fechou a tampa do caixão, preocupando-se com a ventilação que necessitava. Deixou a tampa um pouco aberta, assim não teria problemas em respirar. Quando fechou os olhos, esboçou um leve sorriso, não por se sentir feliz naquela situação, mas por ter achado outro argumento para não ter se enterrado, poderia ser comida para os vermes. Concluiu que havia sido muito esperto.
Ao contrário da noite anterior, Dirceu quase não podia mexer um músculo. O espaço era mínimo e qualquer movimento brusco derrubaria a tampa do caixão. Outra coisa que prejudicou seu sono foi o fato da mesma estar levemente aberta, o que facilitou a entrada dos pernilongos. Era bratecamente um banquete a céu aberto.
Perto das 3h da madrugada. Quando o agente conseguiu repousar e adormecer, definitivamente, ele quase perdeu a vida. A tampa não se fechou e ele também não foi atacado por zumbis, mas a natureza lhe pregou uma peça.
No meio do seu sonho, o coração de Dirceu começou a disparar e sentiu uma dificuldade para respirar. Acordou com seu corpo quase que completamente imerso na água, que se acumulou dentro do caixão devido a forte chuva que começara a pouco tempo.
Pulou do caixão desesperadamente e caiu na terra molhada. Sujou-se de lama e ainda causou alguns estragos no caixão que não lhe pertencia de fato. Estava nervoso e indignado novamente, mas pelo menos havia tentado.
Dois dias com poucos minutos de pleno repouso. Olheiras, cansaço e alguns machucados. Um caixão danificado e uma cama remendada. E uma mulher que deve estar se revirando no túmulo de tanto rir da queda do seu companheiro de beliche.
Dirceu comprou uma cama, alguns dias depois, com suas economias. Arrumou todas as goteiras da casa e, apesar dos mosquitos que entravam, deixava as portas e janelas da residência abertas, para ventilar e não se sentir preso. Exceto quando chovia.
O agente funerário finalmente voltou a dormir profundamente, mas acordava todos os dias às 6h. Com dor nas costas e menos inveja dos mortos.
(Aguarde o próximo capítulo)
À noite os pensamentos iluminavam o cemitério. E por essas "viagens", sem sair do lugar, que Dirceu dormia tarde, mas o suficiente para levar a vida vagarosa, dia após dia.
Todavia, uma madrugada, indiferente para os seres comuns, foi inquietante para o único ser humano vivo naquele terreno. A cama de Dirceu quebrou. Depois de 13 anos de uso, o dono ainda ficou surpreso pela falta de qualidade daquele móvel. Sempre teve alguas dores nas costas, mas nunca reclamou para seus amigos mortos.
Tamanha era a sua raiva e indignação, a tentativa de dormir sobre o couchão surrado, colocado no outro canto do quarto, foi em vão. Ficou deitado ali por menos de 5 minutos, insuficientes para acalmá-lo, já que ficou revirando-se insistentemente.
Levantou-se e sentou se na cadeira. Momento que desistiu da luta e aceitou a insônia. Foi quando Dirceu sentiu inveja de todas as outras pessoas que se encontravam dentro daquelas quatro paredes. Afinal todas elas estavam deitadas, imóveis, em sono profundo.
Também comparou sua cama com um caixão e concluiu que o berço dos mortos, muitas vezes, era mais confortável que sua própria cama.
Após tantas reflexões, ficou intrigado pelo sono dos mortos. E de repente, devido ao nervosismo que o tomava, decidiu que, simplesmente, morreria por uma noite.
No dia seguinte, passada a noite em claro, Dirceu pôs seu plano em ação. Primeiramente escolheu um caixão em que seu corpo coubesse com folga, extremamente confortável e que não tivesse nenhum defeito, principalmente nos fechos e dobradiças, pois não queria que seu sono fosse eterno devido a erros de fabricação.
O segundo passo foi resolver onde o caixão ficaria, porque não queria apenas colocar sua nova cama no quarto. Já seria muita mordomia para aquele aspirante a defunto, que teria o maior túmulo das redondezas, sua própria casa, o que poderia acarretar no descontentamento dos outros inquilinos.
Desistiu, horas depois, de se "auto-enterrar", o que seria humanamente impossível. Então, achou melhor apenas colocar o caixão sobre um túmulo, um retângulo 3D forrado de azulejos acinzentados. Pertencia a uma senhora que faleceu há muitos anos atrás, vítima da pneumonia. Já que iria dormir em uma espécie de "beliche macabra", Dirceu achou melhor dormir com uma mulher.
Com todo o planejamento concluído, chegou a hora da verdade. Precisamente às 23:48h, Dirceu subiu sobre o túmulo, abriu o caixão e deitou-se delicadamente. Antes de fechar a tampa do caixão, que não ficaria presa em hipótese nenhuma, ele ainda arrumou o travesseiro e o cobertor velho. Ainda houve a pausa para a oração, não queria ser alvo de nenhuma assombração no seu novo habitat.
Cuidadosamente fechou a tampa do caixão, preocupando-se com a ventilação que necessitava. Deixou a tampa um pouco aberta, assim não teria problemas em respirar. Quando fechou os olhos, esboçou um leve sorriso, não por se sentir feliz naquela situação, mas por ter achado outro argumento para não ter se enterrado, poderia ser comida para os vermes. Concluiu que havia sido muito esperto.
Ao contrário da noite anterior, Dirceu quase não podia mexer um músculo. O espaço era mínimo e qualquer movimento brusco derrubaria a tampa do caixão. Outra coisa que prejudicou seu sono foi o fato da mesma estar levemente aberta, o que facilitou a entrada dos pernilongos. Era bratecamente um banquete a céu aberto.
Perto das 3h da madrugada. Quando o agente conseguiu repousar e adormecer, definitivamente, ele quase perdeu a vida. A tampa não se fechou e ele também não foi atacado por zumbis, mas a natureza lhe pregou uma peça.
No meio do seu sonho, o coração de Dirceu começou a disparar e sentiu uma dificuldade para respirar. Acordou com seu corpo quase que completamente imerso na água, que se acumulou dentro do caixão devido a forte chuva que começara a pouco tempo.
Pulou do caixão desesperadamente e caiu na terra molhada. Sujou-se de lama e ainda causou alguns estragos no caixão que não lhe pertencia de fato. Estava nervoso e indignado novamente, mas pelo menos havia tentado.
Dois dias com poucos minutos de pleno repouso. Olheiras, cansaço e alguns machucados. Um caixão danificado e uma cama remendada. E uma mulher que deve estar se revirando no túmulo de tanto rir da queda do seu companheiro de beliche.
Dirceu comprou uma cama, alguns dias depois, com suas economias. Arrumou todas as goteiras da casa e, apesar dos mosquitos que entravam, deixava as portas e janelas da residência abertas, para ventilar e não se sentir preso. Exceto quando chovia.
O agente funerário finalmente voltou a dormir profundamente, mas acordava todos os dias às 6h. Com dor nas costas e menos inveja dos mortos.
(Aguarde o próximo capítulo)
6 comentários:
hahah
boa.
Não q eu não tenha começado a duvidar da sanidade mental do Dirceu, mas é uma curiosidade, não é?
hehehehe
:***
genteeeeeeeeeeeee q pessoas estranha esse dirceu eu juro q dessa vez eu fiquei com medo , q desespero essa historia de dormir em caixão hauahauahauahaua
pessoas um tanto quanto estranha essa hauahauaha
quando q vc posta o 4 mesmo ???
beijocas
Barbara
Hahahaah Dirceu naum devia ter dado uma de espertinho. Mas fikei imaginando de alguem que presencia-se tal cena, um morto abrindo caixão desesperado? Cruzes! ;*
hahahahahahaahahahahahahahahaha
Aspirante a defunto!
Cara, cada vez mais sensacional, tá escrevendo muito bem!
Beijo
Olá Colega,
Achei seu Blogue deveras interessante. Convido-o para visitar clubeanonimo.blogspot.com .
Caso seja do seu interesse, proponho uma troca de linques.
Abraços fraternos,
Me importar com sua ajuda na divulgação? hehe
Te dou todo o apoio uahuaha
dormir num caixão, vou dormir em um qualquer dia. :D
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