segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Dirceu - O Agente Funerário

Capítulo 2
A Vida dos Mortos

Para muitos a morte impressiona pelo acaso. Algo certo e, ao mesmo tempo, tão imprevisível. O fim é chocante e assusta, principalmente, por não sabermos como iremos morrer e o que viria depois.


Dirceu não tinha as respostas. Desconhecia a "pós-vida". Vivia no CEU, mas acreditava que não era daquele que todos falavam e esperavam. Sua única certeza é que havia um final para tudo, independente do desfecho. Porém, caso existisse vida após a morte, ele ajudaria na transição.

Como era de se esperar, Dirceu já havia visto muitos corpos sem vida, muitos olhos sem brilho. Não era uma atividade muito gratificante, mas alguém tinha que fazer. Sempre cuidando do estado do defunto. Desde o velório até o fechamento da cova.

Um profissional não vive apenas de glórias, muito menos na profissão de Dirceu, que já precisou enfrentar verdadeiras provas nessa área.

Certa vez, uma trupe veio se apresentar na cidade. O circo foi montado e o espetáculo chamou a atenção por duas semanas. Até que um palhaço, de idade avançada, faleceu. Uma morte natural.

Ele amava o que fazia, segundo seus amigos. Não se sabia de nenhum familiar ou amigo que não fosse membro da trupe. Desta forma seus colegas de trabalho decidiram como o defunto iria ser velado. Foi estranho para Dirceu enterrar alguém vestido de palhaço, e um tanto quanto difícil, principalmente pelos colegas não terem permitido o coveiro tirar aqueles sapatos gigantes e a peruca verde, que atrapalhavam o fechamento do caixão.

Outro caso diferente foi o empresário que morreu de infarto. Devido a sua adoração pelo mundo automobilístico, sua família decidiu mandar fazer um caixão com o formato de uma Mercedes, uma réplica bem feita.

Tal fato gerou uma moda na cidade. Por algum tempo apareceram caixões com formatos variados: chuteira, submarino, piano, estatueta do Oscar, etc.

Quando uma atriz de filmes pornográficos morreu, a justiça achou melhor interferir nas leis do sepultamento. Os caixões que fugiam do s padrões pré-estabelecidos foram proibidos, o que ocasionou uma greve das funerárias que já estavam se adaptando as novas tendências do mercado.

O que deu muita dor de cabeça para Dirceu foi quando um baterista gótico morreu e sua banda resolveu fazer um último show em sua homenagem, no cemitério. A entrada foi proibida, apesar dos ingressos comprados antecipadamente por algumas pessoas.

Essas anomalias aconteceram, mas foram poucas. O CEU não fugia à sua rotina. Aquele agente funerário estava incumbido de limpar o cemitério, regar o jardim e as flores, cuidar da iluminação, etc. Não surgiam novidades todos os dias.

O maior passatempo de Dirceu era imaginar como eram as vidas daqueles que já se foram. Seja apenas por um nome na lápide ou por ter visto o defunto antes de ser enterrado. Eram perfis e histórias construídas por dias.

Dirceu já achou jogadores de futebol, atores de novela, cantores do seu rádio AM, etc. Quando na verdade eram pedreiros, marceneiros locutores de jogos dos times de várzea.

Sua imaginação já foi capaz de desenhar a vida de Ricardo Lourenço. Para Dirceu ele foi um apresentar de Tv muito famoso e rico. Era um conquistador e namorava as mulheres mais belas. Generoso, astuto e carismático. Descobriu, tempos depois, que ele não passava de um ambulante que gastava todo o seu dinheiro em prostíbulos, pinga e jogo do bicho. Apanhava quase todos os dias da esposa e que já trabalhou como vendedor, mas foi demitido por falta de simpatia.

Outro dia Dirceu enterrou um homem com roupas rasgadas, cabelos cumpridos e imundos. Sem documentação, foi identificado como indigente. Acreditou se tratar de um simples mendigo. Ele acertou. Desde então começou a ter mais fé na sua imaginação.

Em uma ocasião muito triste, Dirceu teve que enterrar uma amiga. Ele não precisou imaginar sua história, pois já sabia grande parte dela. Eram amigos de anos e não conversavam há algum tempo, sem nenhuma razão especial. Apenas o tempo os afastou e quando o mesmo os uniu, o tempo acabou para ela.

Dirceu sempre dizia que nunca era tarde demais. Conversaram horas e horas durante uma madrugada regada a lágrimas. Ele contou tudo que se passou nos últimos tempos e ela ouvia, não reclamava ou contrariava, apenas escutava. Foi a vez de Dirceu descrever sua história.

(Aguarde o Próximo Capítulo)

5 comentários:

Vitor disse...

To gostando!
Quantos capítulos vão ter? (só pra eu saber se estamos no começo, no meio ou no fim da história...eu sou muito ansioso).

Mas eu tenho que admitir que ri por alguns segundos a fio com a sacada:

"Quando uma atriz de filmes pornográficos morreu, a justiça achou melhor interferir nas leis do sepultamento."

HAHAHAHAHAAHHAAHHAHAHHAHA
fikei imaginando as pessoas carregando o caixão fálico hahahahahahahaha

Vitor disse...

To gostando!
Quantos capítulos vão ter? (só pra eu saber se estamos no começo, no meio ou no fim da história...eu sou muito ansioso).

Mas eu tenho que admitir que ri por alguns segundos a fio com a sacada:

"Quando uma atriz de filmes pornográficos morreu, a justiça achou melhor interferir nas leis do sepultamento."

HAHAHAHAHAAHHAAHHAHAHHAHA
fikei imaginando as pessoas carregando o caixão fálico hahahahahahahaha

Alessandra Castro disse...

Ahh tô ficando triste com a vida do pobre Dirceu, mas se enterrada eu fosse no Céu, gostaria de algo bem espalhafatoso, um ovo de páscoa talvez? ;*

Mar e Ana disse...

hehehe
Nossa, tá mto legal esse capítulo!
As idéias dos caixoes foram boas
hehehee :}

Como o Vitinho, tbm sou mto ansiosa, e ae? em que ponto estamos?

:*****

Anônimo disse...

hauahauahauahaauahauahauah coitada da pobre moça só pq trabalhava no ramo do entretenimento adulto !!! hauahauahauahauahauahauahaua
coitada da amiga tbm gente ficar ouvindo o homem falar da vida e num poder fazer um simples comentariuzinhuuuu hauahauahauaha!!!

Tô adorando tbm!!!!

Babs