sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Dirceu - O Agente Funerário

Capítulo 1
Dirceu no CEU


Dirceu era mais um pacato cidadão que vivia como podia. Tinha seus 32 anos, magro, alto, cabelo curto e preto. Não tinha grandes problemas de saúde. Trabalho fixo, mas que não lhe garantia uma fuga da classe baixa do interior de São Paulo. Ele era mais um e nada mais.


Com a profissão conseguiu uma casa, uma casinha. Sem muitas posses, não há problemas com falta de espaço. Sua residência fica em um terreno amplo, cercado por muros altos. Em uma dessas paredes se encontra um portão, grande e bem acabado. Sobre ele, em relevo no concreto, há um nome em letras maíusculas: Cemitério Eduardo Ulisses. Mais conhecido como CEU.

Pouco se sabe sobre o homem chamado Eduardo Ulisses. Pela falta de informação, muitos boatos foram inventados, porém os moradores mais antigos da região dizem que ele foi um médico que ajudou a salvar muitas vidas. Claro que se esse médico ajudasse a acabar com essas vidas, provavelmente ele o seu nome não estaria acima daquele portão.

Anteriormente a essa denominação, o CEU era conhecido como Cemitério Ulisses, apenas. Contudo, com uma mania repentina de abreviar os nomes que se alastrava pelas conversas dos preguiçosos e "desmemorizados", foi solicitado a mudança do nome.

Dirceu foi empregado no auge daquele estabelecimento. O CEU já foi um grande cemitério, freqüentado por clientes das mais nobres patentes. Infelizmente outros cemitérios foram abertos, roubando aquela fatia de mercado. Houve tempos que até aparentava que as pessoas deixaram de morrer.

Aos 32 anos, 5 anos naquele lugar, Dirceu notou que a clientela mudou muito. De grandes túmulos a pequenas lápides no chão, algumas sem nome. O pedaço de chão estava se desvalorizando e o CEU ficou mais diversificado.

Nosso protagonista perdeu os colegas de trabalho. Eles não morreram, ainda, mas conseguiram outros empregos. Abandonaram Dirceu que, já que o movimento estava fraco, ficou encarregado de toda a atividade naquele cemitério. Um agente funerário completo. Cuidava da maquiagem, tamponamento, sepultamento, etc. Por alguns trocados a mais ele fazia discurso, dizia algumas palavras bonitas sobre o falecido e ainda rezava um "Pai Nosso".

Sua moradia ficava na parede contrária ao portão do cemitério, ou seja, ele precisava atravessar toda a "estrada dos mortos" para chegar a frente do cemitério. Era um longo caminho, mas Dirceu não reclamava. Poderia ter uma casa pequena, entretanto possuía um jardim amplo e rico. A variedade de flores era absurda e o gasto de água para regá-las também.

O agente não era de sair muito. Não tinha muitos amigos vivos. Não era difícil encontrar Dirceu trocando palavras com o vento. O que parecia um monólogo ou uma loucura para as pessoas, na verdade era um diálogo que ultrapassava as barreiras do sobrenatural. Ele considerava cada ser humano como igual, mesmo que este esteja abaixo dos seus pés.

Com essa vida estável dos seus "inquilinos", Dirceu desaprendeu a sonhar. Como se estivesse deitado debaixo da terra, ele perdeu suas ambições, se é que um dia já as teve, e passou a apenas vagar, um dia após o outro. Acreditava que sua vida não passaria daquilo, então parou onde estava.

Já que não queria nada, nem atingir qualquer outro patamar, Dirceu passou a sonhar pelos outros. Cada lápide daquelas representava alguém. Uma história coberta por madeira, terra, concreto ou azulejos. Esse era o seu passatempo, descobrir quem era aquele ser cujo coração não batia mais, por meio do corpo, das vestimentas, dos familiares que visitam o falecido, do túmulo, etc.

Para Dirceu, no CEU, as horas só passavam quando os mortos falavam.

(Aguarde o Próximo Capítulo).


Acho que criei o primeiro personagem que deve aparecer outras vezes no Meu Querido Blog. Infelizmente acredito que suas histórias ficaram jogadas no blog, até que eu descubra alguma maneira de organizá-las, caso seja possível. Então não fiquem cabreros caso o próximo capítulo só seja escrito daqui a 5 posts.

Inté queridos.

5 comentários:

Mar e Ana disse...

Uau... q uau! hehehe tá mto interessante seu começo :}
Mas ele parece ter uma vida meio triste, n parece? Espero q ele seja um personagem redondo e q uma super reviravolta mude a vida dele :D ou não.

E não me venha com zumbis, ok? ¬¬


:*****

Vitor disse...

gostei dele.

me pareceu sensato.

quero logo os próximos capítulos. Grato.

Alessandra Castro disse...

Oh pobre Dirceu, definitivamente ele já ganhou minha simpatia. ;)

Renatinha disse...

Estou no aguardo de próximos capítulos!


=]

Alessandra Castro disse...

Ai vorta! Quero uma segunda parte.

PS: Opá q soh vale se for um abraço apertadenhooo ;)