Dois

- Por quê?

- Por que o quê?

- Por que você é assim?

- Tão feio assim?

- Não seu bobo. Assim, feito para mim. - seu olhar singelo foi coberto pelas pálpebras e um leve sorriso foi desenhado na sua face.

- "Feito"? Até parece que fui construído ou coisa assim. - infelizmente eu sempre quebro os momentos românticos com alguma tentativa de piada. Acho que meu bom humor é a fuga do meu nervosismo ou uma ação involuntária quando não sei o que falar.

- Quer estragar o momento mesmo? - não disse - Na correria das últimas semanas nós não tivemos tempo para isso.

- Eu sei amor, desculpe-me. Estou apreensivo, mas feliz.

- Eu também. Muito feliz. Por isso, eu acho que você foi feito pra mim. Não tinha como ser diferente.

- Sempre há a possibilidade de ser diferente. - seus olhos se abriram rapidamente com um toque de desapontamento. - Não fique triste, eu só acho que poderia ter sido diferente.

- Como?

- Não sei, de repente poderíamos não estar juntos. - Pelo jeito você nunca vai acreditar em destino. - ela virou o rosto e deixou seus cabelos negros taparem minha visão.

- Não preciso acreditar em destino. Preciso acreditar em nós. Não quero depender de uma força do além para escrever a minha história. Afinal ela é a minha história. - ela continuou virada, como se não aceitasse minas palavras. - Apenas gosto de pensar que crio a minha vida a cada segundo. Se existe destino ou não, eu não sei. Você sabe que eu sou teimoso.

- E muito. - seus cabelos se mexeram levemente, devido à mudança de respiração com sua meia risada. Coloquei minha mão sob o queixo dela e virei o seu rosto delicadamente na minha direção.

- Ei. Lembra do nosso primeiro beijo?

- Claro. Eu não fui embora com meus amigos de carro, porque queria ficar com você. Corremos para debaixo do ponto de ônibus para fugir da chuva. Ficamos ensopados.

- É. Você poderia ter ido embora, mas ficou. Poderia ter ido de carro, mas foi de ônibus. Tomou chuva e, por isso, ficou doente no dia seguinte. Você...

- Você poderia não ter se importado, porém me deu sua jaqueta seca que trazia na mochila. - ela me interrompeu olhando fixamente para mim. - Poderia ter terminado nesse momento, mas você...

- Te beijei. Era o que eu queria e não me segurei.

- Ainda bem. Foi lindo. A melhor novela. - nós rimos brevemente, como se tudo tivesse acontecido ontem. - Eu também queria muito.

- Não sei se existe destino ou não. O que mais me importa é que você estava lá e queria o mesmo que eu. Apenas isso. - novamente ela esboçou aquele sorriso, que me hipnotiza, e disse:

- Pensando dessa maneira, prefiro escrever uma nova história com você, a cada dia. Desde que esteja com o meu amor. Uma surpresa a cada dia...

- Vou me esforçar... prometo.

- Eu também. E sabe qual será a surpresa de amanhã?

- Sei sim. Vamos nos casar. - um beijo e a vida pela frente.


Poesia de Hoje:

Juntidão

Sabe, às vezes é bom estar junto
Perto, próximo, adjunto
Ter com que falar, conversar
Com quem chorar, abraçar
Pra tudo terminar em beijo
Como se fosse um último desejo

Tudo parece perfeito
Vem a briga se acaba o conceito
Uma soma que não tem exatidão
Sentimentos caem na contramão
E um problema tão pequeno
Pode tornar-se veneno

E como da noite se faz o dia
Um casal que não se via
Desculpa-se em harmonia

O fim é início então
Como versos de uma mesma canção
Notas em juntidão

Sabe, às vezes é bom estar junto
Perto, próximo, adjunto
Um caso pra casar
Mas antes da noiva beijar
Nunca pense no final
Hoje é sábado e tem carnaval

Douglas Funny