Busão - A Saga (Capítulo III)

Naninha. Olha, eu já fui bom nisso. Há alguns anos atrás era moleza. Era só sentar no banco e dormir bonito, com chuva ou sol, ônibus lotado ou vazio, motorista bom ou ruim. Abria os olhos e já estava chegando no meu destino. Todavia (palavra bonita né?!) em vários momentos eu tive a infelicidade de perder o ponto e só acordar quando ancorava no ponto final, quando o cobrador me acordava delicadamente.

Pois é, atualmente isso se tornou mais difícil, acho que perdi a mandinga ou esqueci o truque. Então minha tentativa de capote não durou mais que alguns minutos, o que gerou uma respiração profunda de descontentamento por parte dos meus pulmões. Reabri os olhos na esperança de avistar minha rua de aproximando, mas via apenas luzes de faróis que se moviam lentamente.

Na tentativa de me distrair fiz várias brincadeiras mentais. Comecei analisando a fisionomia das pessoas para a construção de personagens, me senti um verdadeiro diretor de filmes hollywoodianos, mas também me senti um estudante dentro do ônibus procurando figurantes para um filme que nunca iria fazer. Uma dose de realidade.

Depois cacei, em meio aqueles rostos, celebridades, figuras famosas ou caricaturas. Particularmente eu recomendo essa brincadeira, você se divertira muito andando pelos shoppings, principalmente. Foi interessante descobrir que eu viajava ao lado de, nada mais nada menos, que Dra. Avanir (é ou já foi no Prona), Claudinho (da dupla Claudinho e Bochecha), Cirilo (da novela, das antigas, Carrossel... ah o Carrossel) e um dos vocalistas da banda Titãs (que eu não lembro o nome e ainda não abandonou o grupo), além do cobrador me lembrar muito o Tim Maia.

Acho que avistei Jesus num bar de esquina tomando uns goles e conversando com os apóstolos. Entretanto, vou pensar positivo para que realmente eu esteja enganado e que tenha sido apenas coisa da minha imaginação perturbada. Sacrilégio não.

Para dizer a verdade até que rendeu essa brincadeira, acredito que o ônibus já cruzou a fronteira e entrou no meu bairro. Não precisei viajar muito pela janela pensando em que banda legal eu tocaria bateria ou em que filme eu atuaria como mocinho. E aquele mendigo ali parece o Seu Madruga... passou (essa brincadeira pega mesmo).

A essa altura do campeonato a grande maioria dos meus companheiros, famosos ou não, já desceram esses seus pontos. Apenas eu e mais uns 4 pingados dão a volta no mundo dentro de um busão.

Opa. A padoca está ali. No próximo é a minha deixa. Dar aquela espreguiçada. Puxar a cordinha. Descobrir que é a primeira viagem daquele motorista. Passar o ponto. Ficar nervoso. Descer lá embaixo. Ter que viajar mais um pouco até a minha humilde, mas querida casa.

Até amanhã 104... Puta merda! Meu celular!

Fim.

Poesia de Hoje:

Assim

Não sei de que céu você veio
De que flor nasceu
De qual obra de arte fugiu
Ou de qual conto de fadas surgiu

Presença que me seduz
Alegria que me contagia
Olhos que libertam minha alma
Sorriso que aquece meu coração

Não é necessário mais nada
Toco essa canção sem acordes complexos
Canto sem rima nenhuma
A beleza se fez por si só

Desenhei essas palavras
Como declaração de uma risada
Uma felicidade anunciada
Em mim estampada

Rara poesia feliz
Sem versos contados
Nem limitados
Apaixonados

Gosto assim
Sem começo ou fim
Simples assim.

Douglas Funny